A decisão de extinguir a cobrança do seguro obrigatório SPVAT a partir de 2025 representa uma mudança paradigmática no cenário da segurança viária no Brasil. O SPVAT, sucessor do DPVAT, funcionava como uma rede de segurança universal, oferecendo uma cobertura básica para danos pessoais a todas as vítimas de acidentes de trânsito, independentemente de culpa.
Com sua extinção, essa proteção estatal deixa de existir, transferindo toda a responsabilidade financeira para os indivíduos envolvidos em um sinistro.
Para os motociclistas, um grupo estatisticamente mais vulnerável no trânsito, essa alteração eleva a contratação de um seguro privado de um ato de prudência a uma necessidade fundamental e inadiável. A escolha de uma apólice adequada torna-se, portanto, mais crucial do que nunca.
As coberturas essenciais no cenário pós-SPVAT
Nesse novo cenário, a escolha do seguro começa pela compreensão do valor do seu patrimônio. As seguradoras usam a Tabela FIPE como referência para estabelecer o valor de mercado da sua moto, e é com base nesse número que a indenização em caso de perda total será calculada.
Entender essa avaliação é o primeiro passo para saber como funciona o seguro de moto em caso de roubo, por exemplo, que é uma das principais situações cobertas pela apólice compreensiva (ou de casco), que também resguarda contra furto, colisão e incêndio.
A proteção do patrimônio (Cobertura de Casco)
Esta é a cobertura que protege a moto em si. A referência para o valor do bem é a Tabela FIPE, que as seguradoras utilizam para definir o valor de mercado e calcular a indenização em caso de perda total — quando os custos do reparo ultrapassam 75% do valor do veículo.
A cobertura de casco, também chamada de compreensiva, tradicionalmente resguarda contra os riscos mais comuns: roubo, furto, colisão, incêndio e danos da natureza. Em caso de danos parciais, ou seja, reparáveis, é nesta cobertura que entra em cena a franquia, a participação financeira obrigatória do segurado.
A responsabilidade sobre terceiros (RCF-V)
Com o fim do SPVAT, esta se torna a cobertura mais crítica de qualquer apólice. A cobertura de Responsabilidade Civil Facultativa de Veículos (RCF-V) é o que garantirá o amparo financeiro caso você seja o responsável por um acidente que cause danos a outras pessoas ou propriedades. Ela é subdividida em três categorias principais:
- Danos Materiais (DM): Cobre os custos de reparo do veículo de um terceiro ou qualquer outro dano material que você possa causar, como a fachada de uma loja ou um portão.
- Danos Corporais (DC): Cobre as despesas médicas, hospitalares e indenizações por invalidez ou morte de terceiros envolvidos no acidente. Esta cobertura substitui diretamente a função social do antigo DPVAT.
- Danos Morais (DMo): Uma proteção adicional que visa cobrir indenizações judiciais por ofensas ou sofrimentos causados a terceiros, que não se enquadram como danos físicos ou materiais.
O amparo ao piloto e garupa (APP)
Enquanto o RCF-V protege terceiros, a cobertura de Acidentes Pessoais de Passageiros (APP) é voltada para quem está na sua moto. Ela garante o pagamento de uma indenização por morte acidental ou invalidez permanente (total ou parcial) para o condutor e para o passageiro, preenchendo outra importante lacuna deixada pelo fim do seguro obrigatório.
Decifrando os fatores que compõem o custo do seguro
O preço para obter essa tranquilidade, conhecido como prêmio, não é um valor arbitrário. As seguradoras realizam uma complexa análise de risco para precificar a apólice, considerando uma série de variáveis. O perfil do condutor é o ponto de partida: idade, gênero, estado civil, tempo de habilitação e histórico de sinistros influenciam diretamente a percepção de risco.
As características e o uso da moto também são fundamentais. Modelos com alto índice de roubo, por exemplo, tendem a ter um seguro mais caro. O uso da moto — seja para lazer aos fins de semana, deslocamento diário para o trabalho ou uso profissional intenso, como em serviços de entrega — altera drasticamente o cálculo.
A localidade de circulação e o local de pernoite (garagem fechada ou rua), refletidos pelo CEP, também são ponderados. Para modular o custo, o segurado pode ajustar o valor da franquia: uma franquia mais alta costuma resultar em um prêmio menor, e vice-versa.
Os caminhos para a contratação: assessoria e autonomia
Para navegar neste mercado e encontrar a melhor apólice, existem dois caminhos principais. O mais tradicional é através de um corretor de seguros, um profissional especializado que atua como consultor pessoal. O corretor analisa o perfil do cliente, explica as nuances de cada cobertura e busca no mercado as opções que melhor se encaixam, prestando ainda auxílio fundamental no momento de um sinistro.
A alternativa moderna são as plataformas digitais e insurtechs, que oferecem agilidade e autonomia. Nelas, o próprio motociclista pode cotar, comparar e contratar seu seguro online. Essa via exige, contudo, maior diligência por parte do segurado, que assume a responsabilidade de ler atentamente todas as cláusulas e condições gerais da apólice.
Independentemente do caminho escolhido, a diretriz é clara: a comparação não deve se ater apenas ao preço final. É imperativo analisar os limites de cada cobertura, os serviços incluídos na assistência 24 horas e a reputação da seguradora. A escolha de um seguro de moto deixou de ser apenas sobre proteger um bem; na nova realidade brasileira, é um investimento indispensável na sua segurança financeira e na sua paz de espírito ao pilotar.